Crise institucional na Guiné-Bissau: Presidente ataca líder dos Direitos Humanos após denúncia sobre mortes em hospital

Jurista Bubacar Turé, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, é alvo de críticas do Presidente Sissoco Embaló após denunciar possível tragédia no centro de hemodiálise. Equipa de defesa alerta para pressão política sobre o Ministério Público.
A tensão entre o poder político e a sociedade civil na Guiné-Bissau ganhou novos contornos esta semana, após o Presidente Umaro Sissoco Embaló acusar publicamente a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) de se comportar como um "partido político". O alvo principal das críticas é o presidente da organização, o jurista Bubacar Turé, acusado pelo Chefe de Estado de ser "infantil e irresponsável" por denunciar supostas mortes de todos os pacientes no recém-inaugurado centro de hemodiálise do Hospital Nacional Simão Mendes.

Apesar da negativa oficial do Governo quanto à denúncia, Turé foi intimado pelo Ministério Público, alimentando suspeitas de uma tentativa de intimidação institucional. Em declarações exclusivas à DW África, a advogada do jurista, Beatriz Furtado, defendeu a atuação do seu cliente, sublinhando que "ele apenas fez uma denúncia" e que o procedimento legal seria abrir uma investigação com o devido sigilo, e não expor o denunciante à opinião pública.

“O Ministério Público está sob pressão do poder político. Um inquérito com este nível de rapidez, sem que se trate de um crime flagrante ou de urgência evidente, levanta questões graves sobre a sua independência”, afirmou Furtado.

Segundo a defesa, Bubacar Turé se encontra no interior do país e já confirmou que irá cooperar com a Justiça, atendendo à convocatória do Ministério Público. Contudo, sua equipa jurídica sublinha que o caso está a ser tratado com alarde, como se o jurista tivesse cometido um crime, quando o que está em causa é a simples denúncia de um possível erro médico ou negligência institucional grave.

“Transformaram uma denúncia em espetáculo político. A Liga Guineense dos Direitos Humanos sempre defendeu a transparência e a justiça. Atacar o seu presidente desta forma é uma tentativa clara de silenciar vozes críticas”, disse a advogada.

A declaração do Presidente Embaló, afirmando que Turé “deveria apresentar queixa se se sentir injustiçado”, também é vista como uma tentativa de deslegitimar a atuação da sociedade civil num país onde as instituições democráticas continuam frágeis e sob constante desafio.
Organizações internacionais de direitos humanos estão a acompanhar de perto o caso, que pode se transformar num símbolo da luta pela liberdade de expressão e pela autonomia do judiciário na Guiné-Bissau.
Redação: Betegb
Fonte: DW

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